quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Top 3 + Uma conversa no metrô



.: UMA CONVERSA NO METRÔ :.


Boa-noite. Meu senhor, o senhor poderia, por favor, me dizer que horas são? Em nome de Nossa Senhora do Pneu Furado! É tão tarde assim? Por todos os santos! Para mim era ainda muito mais cedo! Incrível como o tempo passa rápido quando se esta se divertindo, não é? Tem alguém sentado aqui, meu senhor? Não, ah, ótimo. O senhor é muito gentil.

Então, posso perguntar para onde o senhor esta indo? Oh, Paris! É uma cidade linda, meu senhor, creio que gostará muito dela... Puxa, há quanto tempo faz mesmo que eu fui a Paris pela última vez? Cinco anos? Não, não. Seis anos? É, deve ser... De tanto eu viajar de lá para cá, às vezes me esqueço do tempo, por sinal, minha neta diz que estou sempre atrasado por conta disso, hah, hah, hah, ela é uma menina adorável, completou oito aninhos da semana passada, uma pena que não pude estar lá para vê-la assoprando as velhinhas... Trabalho.

Ora, essa sua pergunta, meu amigo... Posso chamá-lo de “meu amigo” ao invés de “meu senhor”? Obrigado, você é muito gentil. Então, uh... Muito bem, eu trabalho com exterminação, lido com todos os tipos de insetos: baratas, formigas, cupins, mosquitos, todos os tipos mesmo, o que quer que esteja incomodando o cliente, eu vou lá e pan! Dou um jeito. Sim, sim, é um ótimo emprego, o horário é flexível, o pagamento é bom e tenho a oportunidade de viajar bastante, semana passada, por exemplo, eu estive no Entrance, sim, sim, é aquele transatlântico que ia do Rio de Janeiro para Tóquio, o próprio.

A propósito, meu amigo, você esta sabendo do que aconteceu no navio? Não, não, essa história de que houve um acidente na sala das máquinas que culminou na morte daquele homem — qual é mesmo o nome dele? Ah, sim. Maurício Magalhães — é uma mentira lavada inventada para evitar que a companhia do Entrance sofresse com a má publicidade. Como eu sei disso? Ora, meu amigo, eu sei disso porque eu estava lá, sim, eu estava lá na hora em que o tal do Magalhães partiu dessa para melhor, estava fazendo o meu serviço.

Ah, mas é claro, não vejo problema algum em contar o que aconteceu... Perdão! Perdão, perdão! Somente agora percebi que estou tagarelando e nem perguntei o seu nome! Diga-me, meu amigo, como se chama? Prazer em conhecê-lo, Timothy Teatime. Eu sou Hugo Hueforet.

Então, antes de contar como o infeliz do Mauro Magalhães morreu, eu assumo que seja importante contar primeiro porque de ele ter morrido, certo? Pois bem. Tudo que eu falar agora foi descoberto por mim depois do assassinato — sim, assassinato — ter ocorrido, é tudo fruto de uma pesquisa que efetuei tão logo desci do Entrance.
Alguns meses antes de embarcar no transatlântico, esse Magalhães apostou em uma luta clandestina, acredito que alguém tenha dado-lhe uma dica por fora, afinal, por qual outra razão apostaria 20 mil dólares em um lutador de nome Anão-de-Ferro? Pois então, ele apostou nesse anãozinho e, como você pode prever, o anãozinho perdeu, por sua vez, afundando o pobre Magalhães em dívidas.

Em uma situação legal, ele teria algumas opções, poderia tentar fazer um acordo, parcelar a dívida, etc, etc, mas em uma situação ilegal como aquela, não há essa opção, no instante em que o anãozinho foi ao chão, dois capangas do agiota surgiram do nada, pegaram o Magalhães pelo braço e levaram-no ao encontro do seu chefe, qual somente não atirou no cara pálida porque percebeu que poderia se beneficiar ao usá-lo.

Por acaso, meu amigo, você leu, ou ouviu falar, sobre esses assaltos a banca que tem ocorrido com maior frequência ultimamente? Os bandidos invadem o banco à noite, arrombam o cofre, recolhem o dinheiro e vão embora antes de a polícia chegar, de modo que apenas uma criatura é vista nas câmeras de vídeo — um homem vestido igualzinho a Chapeuzinho Vermelho. Exatamente, por isso a mídia apelidou esses ladrões de Gangue do Capuz Vermelho.

Acontece que esse Chapeuzinho Vermelho não é o líder do grupo, não, não, ele é apenas um cara qualquer que os bandidos contratam para fingir ser o líder, daí mesmo se ele for capturado, não poderá falar nada sobre o sistema de operação deles, e, bem, dessa vez o cara escolhido para vestir o capuz vermelho foi o Mauro Magalhães, porém... O tal do Magalhães não era um sujeito estúpido, ao invés de seguir todas as ordens que nem um cachorrinho obediente, ele passou as pernas nos bandidos e no agiota, armou uma armadilha para que eles fossem presos em flagrante enquanto ele, espertalhão, escapou com o dinheiro do cofre, comprou uma passagem para o Entrance e pretendia passar o resto de sua vida relaxando no interior do Japão.

O agiota, muito puto da vida, utilizou sua ligação para comunicar-se com um grupo — como meu filho diz — da pesada: a Guilda dos Assassinos. Ele conversou com o diretor e conseguiu contratar um dos melhores assassinos do mundo, o Freelancer, para dar cabo do Magalhães, ainda no mesmo dia, o assassino descobriu o paradeiro do cara pálida, comprou uma passagem e embarcou no transatlântico, muito estimulado a fazer seu serviço devido ao pagamento: 100 mil euros. Sim, sim, é uma boa quantia.

No Entrance, o Freelancer procurou pelo Magalhães, quando ficou cara a cara com ele, fez uma proposta: a vítima lhe dava 50% do dinheiro do cofre e ele o deixaria em paz, Magalhães concordou e disse que fariam a transação naquela noite, se encontrariam na sala das máquinas, onde eu — devido a minha profissão — estaria também.

O assassino e a espertalhão adentraram na sala das máquinas precisamente às onze horas, Magalhães entregou a maleta com o dinheiro, o assassino conferiu o valor ali contido, sorriu, apertou a mão do sujeito e daí o assassinou ao cravar um lápis — sim, um lápis — no meio dos olhos dele, Magalhães caiu e o Freelancer guardou o dinheiro, o qual fazia parte do seu pagamento. Desculpe-me! Esqueci-me de mencionar que antes de o espertalhão entregar o dinheiro, ele e o Freelancer conversaram por algum tempo, pelo jeito deles, parecia que o assassino estava contando uma história.

Não acredita em mim, Sr. Teatime? Trate de acreditar, pois é a pura verdade! Eu estava lá, eu vi tudo que aconteceu — detalhe por detalhe, na verdade, eu até mesmo poderia escrever um conto retratando o fato... Por que eu estou contando isso ao senhor ao invés de comunicar às autoridades? Ora, por um motivo... Veja bem, meu senhor, não somente o senhor é um insetozinho desprezível que roubou um item de valor imensurável do meu cliente como também faz parte do modus operandi do exterminador Freelancer falar de sua vítima anterior antes de realizar o próximo extermínio.

Boa noite, Sr. Timothy Teatime.


.: CRÔNICA DE OURO :.

Ka: Cara, eu pensei que a [minha irmã] fosse me matar ontem. Caralho, ainda tô tremendo de tanto medo.
F: O que diabo aconteceu, criatura?
Ka: Lembra que eu te disse que o meu banheiro tá entupido e que tô usando o do quarto da [minha irmã] por enquanto?
F: Sim, sim.
Ka: Eu fui usar ontem de madrugada, daí como eu não queria acordar ela e passar meia hora escutando reclamação sobre ter acordado ela e tudo mais, entrei de fininho no quarto dela sem ligar a luz, fui pro banheiro, não liguei a luz, coloquei o pau pra fora e na hora que soltei o primeiro jato, escutei um grito.
F: (convulsões de risos).


.: CRÔNICA DE PRATA :.

Co: (séria) O [meu namorado] me pediu em casamento... E eu disse que sim.
F: (angustiado) Mas eu NÃO quero ser a Júlia Roberts! Ela é feia.
Co: Tudo bem (risos). Você pode ser o Patrick Dempsey!
F: Isso quer dizer que eu posso ter um telescópio?
Co: Apenas se você cantar Can’t Buy Me Love.


.: CRÔNICA DE BRONZE :.

P: Mas é isso... Se quiser sair fora [de Belém], te dou apoio. Se quiser ficar por aqui, te dou apoio. Se quiser cursar Direito, te dou apoio e te empresto livros e teorias. Se quiser cursar Medicina, te dou apoio. Se quiser largar Medicina, te dou apoio. Se quiser virar índio, te dou apoio. Se quiser virar viado, aí não, né.
F: Aí já seria sacanear demais (risos).


1 comentários:

Gabriela Freitas disse...

Adoro as suas crônicas, de verdade.

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