sábado, 18 de dezembro de 2010

Crônicas da Minha Vida (200) + O Acidente de Tia Déia



.: O ACIDENTE DE TIA DÉIA :.

Réveillon. Dia de Ano Novo. Fogos de artifício explodindo coloridamente no céu noturno. Pular sete ondas. Vestir roupas brancas. Estourar garrafas de champanhe. Fazer aquela excitante contagem regressiva. Tia Déia adora tudo isso. Ou melhor, quase tudo.

Desde que me entendo por gente, vejo tia Déia se esconder atrás do tio Patty como se ele fosse uma muralha impenetrável sempre que alguém pega uma garrafa de champanhe e a balança com intuito de fazer a tampa voar pelos ares ao ser aberta.

Eu nunca entendi a razão dessa fobia e nunca me interessei o suficiente para perguntar ao papai sua razão, tanto é que somente a descobri no jantar de ensaio do meu casamento quando papai – eternamente carismático – pegou uma garrafa de champanhe e pediu a atenção de todos para que pudesse contar uma história e ao mesmo tempo sanar uma de minhas muitas dúvidas sobre a juventude do papai e dos meus tios postiços.

Quando tio Patty e tia Déia se tornaram o Sr. e a Sra. Oliveira, decidiram que a melhor maneira de passar o Réveillon seria na presença da família e por família estou me referindo ao papai, tio Téo, tio Jorge e a tia Ciça. O plano era levá-los para a casa de praia de um parente do tio Patty que decidira viajar para o exterior com a mulher e os filhos, todos arrumaram suas malas e rumaram para o balneário de Salinas.

Papai descreveu o terreno como enorme e a casa como apertada, mas confortável, pelo que me disse, parecia pairar constantemente uma atmosfera familiar naquele lugar produzindo uma sensação agradável e reconfortante. Por questões mais do que óbvias, os recém-casados se acomodaram na suíte enquanto que os três casais restantes tiveram de sortear quem dormiria no quarto de solteiro, no sofá-cama da sala de estar e na rede que seria armada no pátio da casa.

Tio Téo, sortudo, conseguiu o quarto para ele e sua namorada da época, Karla, uma chama do passado distante, tio Jorge e tia Ciça ganharam o sofá-cama, desse modo, fazendo com que papai tivesse de dividir a rede com sua noiva, Bia.
O grupo de papai & Cia. chegou à casa de praia no dia 26 de dezembro, aniversário do tio Téo, comemoram no pedaço de praia em frente à praia com direito a uma fogueira armada pelos homens, churrasco cozinhado pela tia Ciça e o combo preferido do tio Téo: tequila, sal e limão.

Como de costume, tio Téo ficou empolgado após beber uma garrafa inteira do líquido alcoólico, ficou tão bêbado que jurou de pé junto ter visto uma sereia no oceano. Defende sua visão até hoje apesar de ninguém – nem mesmo tia Ofélia – acreditar nele.
Os dias 27, 28, 29 e 30 foram marcados por manhãs na praia, tardes no pátio da casa e noites procurando festas para ir, dentre elas, a festa do dia 29 em particular parece ter sido a mais ousada: um careca de nariz empinado resolveu desrespeitar a tia Déia sem a menor discrição, e qual foi o resultado? Tio Patty, papai, tio Téo e tio Jorge foram para cima dele e seus amigos.

Sobre essa briga (a terceira e penúltima do papai), ele me disse o seguinte: “Filho, eu não vou te dizer se brigar é certo ou errado, tampouco vou te dizer para não brigar, tudo que te digo é o seguinte: se for brigar, não fique perto do seu tio Jorge – ele acerta tudo e todos! Ele não faz distinção entre amigo e inimigo”.

Os machucados não estavam mais doendo tanto no dia 31, dia em que começa de fato a história do Acidente da Tia Déia. Dando continuidade à rotina daquela semana, o grupo passou a manhã inteira na praia com as mulheres se bronzeando e às vezes indo mergulhar no mar, os homens, por outro lado, preferiram jogar frescobol para decidir de uma vez por todas quem era o Rei da Praia.

O único a não participar do torneio foi o tio Jorge, o qual descreveu o frescobol como “o esporte mais gay de todo o universo”. Eu, pessoalmente, não tenho nada contra a porção homossexual da sociedade, todavia sou obrigado a dizer que aqui “gay” foi usado no sentido pejorativo, vale salientar também que tio Jorge perdeu este seu lado homofóbico desde quando José Carlos (filho dele e meu primo postiço) lhe apresentou o seu parceiro, Rodrigo.

Quando entardeceu, o grupo resolveu quebrar a rotina e seguiu em um passeio pelas dunas da praia do Atalaia, o qual foi bastante agradável para todos, até mesmo para tio Patty, que fica inchado caso permaneça muito tempo debaixo do Sol (este é um dos seus vários estranhos problemas).

Eles assistiram ao pôr-do-sol do topo de uma duna – que posso afirmar como uma das imagens mais bonitas do mundo – então eles retornaram para casa, tomaram banho para tirar o sal e a areia do corpo, vestiram suas roupas brancas de Fim de Ano e rumaram para onde tinham planejado fazer a sua própria festa de Réveillon, a qual contaria com uma fogueira e duas cestas abarrotadas de sanduíches, refrigerantes, algumas latinhas de cerveja e uma garrafa de champanhe.

– Originalmente também íamos levar tequila, sal e limão, mas ninguém estava com vontade de escutar o seu tio Téo falar ter visto homenzinhos verdes no céu.

Tudo parecia estar indo de acordo com os conformes. A fogueira estava alta e imponente, não houve conflito entre relógios durante a contagem regressiva e explosões coloridas iluminavam o céu daquele 1º de janeiro. Daí papai pegou a garrafa de champanhe, sacudiu-a de cima para baixo, então tirou a tampa com o dedo, a pressão fez com que ela voasse pelos ares e...

– Se o seu tio Téo viu mesmo uma sereia, com certeza até ela escutou o grito da sua tia Déia.

A tampa da garrafa acertou em cheio o olho esquerdo da tia Déia, fato que contradiz todas as leis da Física, pois sua posição era paralela a do papai e não havia como a força do vento alterar a trajetória daquele objeto. Bem, a explicação para o ocorrido é irrelevante.

Relevante é o que se sucedeu: papai era tanto o réu quanto o único médico presente ali, por isso que todos pousaram seus olhares sobre ele, o qual sentiu uma pontada de preocupação com a cunhada postiça mesclada ao seu senso de dever para com o ofício de Hipócrates, no entanto...

– Eu não estava esperando que nada desse errado – papai me explicou. – Digo, a minha preocupação máxima era o seu tio Téo “pirando o cabeção” com tequila, sal e limão e a gente arranjando briga para defender a honra de nossas mulheres, então, ah, problemas oftalmológicos realmente não estavam no cronograma.

E o fato de papai só ter uma especialização em Nefrologia naquela época também não foi de grande ajuda, contudo não poderia deixar as coisas do jeito que estavam... Ele mandou que tio Patty carregasse tia Déia até a casa de praia, fez um curativo improvisado e não muito efetivo no olho dela, então colocou a cunhada postiça dentro do carro e dirigiu até o hospital com o pessoal todo em seu encalço.

Na metade do caminho, os deuses resolveram brincar mais um pouco com a vida daqueles meros mortais e fizeram com que um raio atingisse a central de energia elétrica de Salinas, consequentemente, causando um blecaute geral na cidade balneária, fato que não teria sido um problema tão grave caso o hospital não tivesse ficado sem luz também.

– Tente imaginar a situação por um momento: sua tia Déia estava com o olho machucado, seu tio Patty estava uma pilha de nervos, a Bia estava gritando comigo como se não houvesse amanhã e quando chegamos ao hospital, nos deparamos com uma penca de velas brotando de tudo quanto é superfície como se fossem colônias de cogumelos... É a Lei de Murphy: se alguma coisa pode dar errado, dará errado e no pior momento possível.

Papai e tio Téo foram falar com a recepcionista na esperança de que ela entendesse a situação e arranjasse ajuda o mais rápido possível, infelizmente, a mulher não estava lá muito feliz por estar passando o Réveillon sentada atrás do balcão de recepção de um hospital, então não fez muito esforço para ajudar.

Foi nesse momento que tio Jorge resolveu entrar em ação: muito educadamente, ele olhou no fundo dos olhos dela e gritou com a negligente com tanto afinco que ela ficou tremendo de ponta a cabeça, pegou o telefone e discou um número, tio Jorge se voltou para o grupo e abriu um sorriso de satisfação... Que não demorou a se transformar numa careta ao descobrir que a recepcionista tinha chamado os seguranças para tirá-lo do recinto, tia Ciça, obviamente, o acompanhou e ficou fazendo companhia a ele do lado de fora do hospital.

Não aguentando mais aquele desconforto, tia Déia se libertou do abraço apertado e preocupado do tio Patty e decidiu tratar do assunto ela mesma, se aproximou da recepcionista e não falou uma palavra sequer, tudo que fez foi retirar o curativo improvisado feito pelo papai – a recepcionista deu um grito de horror e no mesmo instante tratou de arranjar um médico para atendê-la.

– Curiosamente, o médico era o Mangabeira, um amigo meu dos tempos de universidade, logo que foi chamado, ele não parecia estar muito empolgado, mas foi só me ver e descobrir que a paciente era minha “irmã” que a atendeu com todos os cuidados.
O Dr. Mangabeira, oftalmologista e clínico geral, fez um curativo decente em tia Déia, deu-lhe um analgésico potente, disse que ela não corria nenhum risco aparente para com a visão e relembrou histórias antigas com o papai.

Originalmente, papai e o grupo planejavam que a tia Déia fosse devidamente tratada para depois retornar a festa na praia, contudo encontrar o Dr. Mangabeira e descobrir que o coitado estava fadado a passar o resto da madrugada naquele hospital esperando mais casos daquele tipo fez com que o coração do papai amolecesse.

Ele conversou com o pessoal e pediu para que concordassem em passar a primeira madrugada do ano ali, fazendo companhia ao simpático profissional que ajudara tia Déia, a qual aceitou a sugestão imediatamente apesar de sua enorme aversão a hospitais.

O grupo fez uma coleta e comprou comida e bebida na loja de conveniência do posto de gasolina ali perto, se sentaram no chão da recepção e desfrutaram de uma madrugada bastante agradável, cheia de risos, brincadeiras, histórias nostálgicas e de uma epifania da parte do papai.

– Naquele momento eu desejei do fundo do meu coração que o meu filho viesse a ter a mesma sorte que eu... – disse papai em seu discurso. Ele olhou para mim e para minha futura esposa. – E eu fico feliz que ele tenha tido.

Um pequeno post-scriptum: papai quase se casou com a Bia, a data do casamento estava marcada e ela chegou a subir no altar com ela, entretanto no instante em que ela ia dizer “Sim” a célebre pergunta “Você aceita este homem como seu esposo?”, um velho amigo dela, Robson, irrompeu na igreja e gritou que a amava do fundo de seu coração, desde quando o conheceu, Bia nutria uma forte atração pelo tal amigo e não conseguiu resistir à declaração, abandonou papai no altar e fugiu com Robson.

Se isso tivesse acontecido comigo, eu não sei o que faria, todavia tenho absoluta certeza de que não seria algo bonito. Papai, por outro lado, sempre foi uma pessoa nada convencional e o mesmo pode ser dito de suas reações, no caso em questão, tudo que ele fez foi soltar uma boa gargalhada e anunciar aos convidados que embora o casamento estivesse cancelado, todos ainda poderiam comparecer ao bufê.

– Eu nunca a amei de verdade – me explicou papai certa vez. – Ela foi uma das pessoas que apareceram no meu caminho para me ajudar a me transformar no homem que sua mãe amaria. E por isso sou eternamente agradecido.


.: CRÔNICAS DA MINHA VIDA (200) :.

1910.
CW: (falando de seus sonhos) Era tipo um programa de tevê e meus sonhos passavam em determinado tempo, depois acaba[va] um e começava o outro (risos), Deus! Primeiro sonhei que tava sendo atacada por milhares de cobras ao mesmo tempo, daí pliiim!, o tempo delas de me matar acabou. Daí no segundo, eu entrava na casa de alguém sem ser vista, eu estava invadindo uma residência, na hora de sair, o cara me viu... Só que o cara era macumbeiro, daí ele dizia que ia jogar o meu nome na mandinga e do nada começou a mandinga, e [o] meu nome rolando lá, pliiim!, acabou o tempo desse também. O terceiro foi o mais legal: era um desenho animado... E eu não estava nesse... Nesse desenho, o carinha matava todo mundo que sabia alguma coisa lá, eu agora não me lembro [o quê]... E, no final, como não tinha mais ninguém que sabia, só ele, ele se matava, aí eu acordei.
F: Esse seu terceiro sonho foi tão Comichão & Coçadinha (risos). Tinha um relogiozinho nos seus sonhos mostrando quanto tempo ainda faltava para acabar?
CW: Não... Mas eu sabia que tinha... Não sei, mas eu sabia.
F: Onisciência onírica é algo tão legal. Interessante que a seriedade dos seus sonhos foi diminuindo com o passar do tempo.
CW: (risos).

1909.
F: Sério, de vez em quando eu acho que ando com as pessoas mais estranhas e distorcidas dessa cidade. Dava para fazer um filme burtoniano com esse elenco.
CW: Também acho os seus amigos mega estranhos e engraçados, acho que Belém é o centro do Brasil.
F: Só se for o centro das pessoas porras loucas (risos).
CW: (risos) Sério, eu fico refletindo sobre as histórias que você me conta e cheguei a essa conclusão.

1908.
CW: (falando da minha letra) Legível. Não chega a ser bonita. Mas tá bom, letra de homem não pode ter frufu.
F: Do mesmo modo que letra de mulher não pode ser de troll.
CW: (muitos risos).

1907.
F: Aff, eu estou indeciso, o que eu escuto agora?
CW: (sacaneando) Molejo.
F: Prefiro me suicidar em uma bacia de HF.

1906.
CW: Tenho vontade de criar uma série de obras [de arte] pontilhadas com cocaína, tipo, exibindo o rosto do [Hugo] Chávez, alguma coisa assim, mas não ia dar muito certo: os “dorgados” iam usar as minhas obras.
F: (risos) Eu já ia dizer isso!

1905.
PV: Bem, e o que mais o xará lhe disse?
F: Xará não me disse nada.
PV: Eu sei, só estava jogando verde de novo. Se eu der a resposta certa, você vai gritar “Saia da minha mente!” e terá um abalo mental muito grande, então estou poupando sua mente disso.
F: Eu não sou o Kamille Bidan, eu sou o Amuro Ray.
PV: Não, você é o Felipe Cruz, tem Quantum Brainwaves, e vai ficar com dor de cabeça.
F: (risos) Eu ri MUITO (mais risos)! Foi supimpa! Cronicada! E não dou à mínima se ninguém entender!

1904.
PV: Salve!
F: Meu primo! Tudo bem?
PV: Uhum, e contigo?
F: Tô ótimo! Com o lábio cortado, mas ótimo.
PV: OK, quem é a garota?
F: (risos).

1903.
F: Pai, tem algo que vem me perturbando há algum tempo. Eu já filosofei por horas e horas e horas sobre isso e não chegou a nenhuma conclusão, então, cá estou preparado para perguntar isso ao senhor: por que diabo o senhor põe uma colherzona em cada xícara do café da manhã?
Pai: Para vocês colocarem leite na xícara.
F: É, mas, pai, a gente só usa uma colherzona. É que nem seringa de viciado: compartilhada por todo mundo.

1902.
F: Mãe, por que a cozinha está mais molhada que mulher excitada?
Mamãe: Porque a sua irmã resolveu lavar a janela.
F: Por que ela lavou a janela do lado de dentro da cozinha? Sério, mãe, o que a senhora fumou quando tava grávida da bochechuda?
Mamãe: Eu não fumava quando estava grávida dela, eu fumava quando estava grávida de ti.
F: (owned).

1901.
Filha do Meu Primo (três anos): Eu quero presunto.
F: Mas não tem mais presunto, bebê.
Filha do Meu Primo (três anos): (vai até a geladeira, abre-a, procura o presunto, encontra-o, o pega, vai até mim e mostra-o) Tem!
F: (owned).


0 comentários:

Postar um comentário