sábado, 30 de outubro de 2010

Crônicas da Minha Vida (181) + Devaneio



.: DEVANEIO :.

Eu não tenho carro, assim sendo, meu principal meio de transporte é o coletivo, às vezes GOL (Grande Ônibus Lotado), outras vezes — nos dias de menor sorte — GOLF (Grande Ônibus Lotado & Fedorento). Como de costume, nessa última quarta-feira de outubro, eu saí do cursinho e rumei para a parada de ônibus com intuito de ir para casa, fiquei lá parado, os braços cruzados e o aparelho de .mp4 ligado — para o meu azar, a bateria acabou antes mesmo de o Nick Mason rir em One of These Days. Entediado, eu não tive outra escolha senão pensar, ou melhor, devaneiar (como minha amiga diz).

Não há nenhum meio de transporte no mundo igual ao ônibus e nele andar é uma aventura única que começa exatamente onde eu jazia naquele momento: na parada (alguns a chamam de ponto), local onde coisas interessantes acontecem — é incrível: você pisa naquele pedaço de terra perto da plaquinha e, imediatamente, o ônibus que precisava pegar passa ao seu lado, indo embora em uma velocidade tão alta, mas tão alta que, caramba, poderia viajar no tempo caso possuísse um capacitor de fluxo.

Então você xinga o motorista de tudo quanto é jeito (o mais engraçado que eu já escutei até agora foi filho duma maldita rameira!, até o incluí no meu vocabulário) e fica a esperar horas a fio pelo próximo ônibus, se quer um verdinho, verá todas as cores do arco-íris passando na sua frente, todas MENOS o verdinho tão esperado: é uma daquelas coisas como “quando a torrada sai boa, cai com o lado da manteiga virado para o chão”.

Daí, por um milagre de Natal, Páscoa e Chanucá, você avista no horizonte aquele glorioso ônibus verdinho pelo qual tanto esperou e é nesse momento sensacional que você percebe como há esperança para uma Humanidade unificada, porque quando as pessoas na parada avistam o ônibus, levantam suas mãos em sincronia, algumas delas até mesmo arriscando sua vida e indo para o meio da rua para assegurar que o motorista há de parar o veículo. Às vezes, ele para. Outras vezes, não. Contudo, continua sendo um momento muito lindo. Eu juro de pé junto que me emociono quando isso acontece. Juro.

E aí você sobe ao ônibus, mas quem disse que é o fim da aventura? Não, não, não. A aventura, meu amigo, apenas começou. Você sobe e dá de cara com um cenário para lá de desesperador: todos os assentos estão ocupados, há um mol de pessoas em pé e, que sorte!, você é uma delas. Então, o que acontece? Você paga a passagem cujo valor é um absurdo de tão caro (quase dois reais aqui em Belém), passa pela roleta, encolhe todo o corpo, se espreme por entre aquele formigueiro de gente e vai avançando até a parte final do ônibus, pensando que “É melhor ficar aqui, porque se essa bodega não esvaziar até a minha parada, eu vou estar tão fodido quanto uma puta aposentada”, segura com as duas mãos naquela haste horizontal cujo nome não é “haste horizontal”, entretanto que será chamada assim nesse texto por eu desconhecer o termo correto, e em seguida olha para o lado, tendo então uma visão horripilante: a pessoa à sua esquerda é um operário suado de construção, ele acabou de sair do trabalho, está vestindo apenas uma camiseta, os braços estão levantados, os pelos da junção do membro superior com a parede lateral do tórax parecem mais com um arbusto do que com qualquer outra coisa e, para piorar, a altura do indivíduo é maior a sua, de modo que a sua cabeça bate exatamente ali naquela apavorante — nos dias mais quentes, você pode até ver as gotas de suor caindo da ponta do pelo. É um pesadelo garantido naquela noite.

Mas nem tudo está perdido, porque — ora, quem diria? — aquele lugar na sua frente acabou de ser desocupado! Você larga a haste horizontal, dá cotoveladas, chutes, socos e empurrões nas outras pessoas que também notaram aquele assento dando sopa, nocauteia uma pessoa, acertando-a na cabeça usando a mochila e, portanto, o cadernão de mil folhas que há dentro dela e finalmente alcança o cobiçado lugar. Que tudo!

Você se senta. Você fecha os olhos. Você encosta a cabeça no vidro. Você relaxa. Você sente alguém cutucando o seu ombro. Você abre os olhos, pronto para lançar aquele olhar que diz “O que é agora, filho de uma macaca assanhada?” e então descobre uma velhinha que poderia muito bem ter sido babá da Dercy Gonçalves o encarando.

Há um total de quarenta e sete lugares nos ônibus de Belém do Pará, no entanto é o SEU lugar que ela quer tomar e você, pobre coitado, não tem escolha senão desenhar no rosto um sorriso tão falso quanto os peitos da Sheyla Hershey, dizer “Tudo bem, pode sentar, não tem problema” e voltar para a companhia nem um tantinho adorável do Sr. Aparar-O-Sovaco-É-Para-Fracos, que é onde você permanecerá até chegar sua hora de descer, momento no qual você puxa a cordinha para avisar o motorista e ele, uma pessoa tão simpática, o ignora, passando direto do seu ponto de descida e somente parando dois quarteirões mais tarde.

Você desce do ônibus, chama o motorista de tudo, menos de “santo”, inicia sua caminhada debaixo daquele calor das 15 horas e, na metade da andança, um playboy passa do seu lado no Honda Civic dele, escutando Pare O Mundo Que Eu Quero Descer e usando uma camisa vermelha do Che Guevara.

Eu cito o filósofo desconhecido que escreveu as seguintes palavras na parede de um colégio em que eu fiz prova do Vestibular certa vez: “Eu queria ser pobre apenas por um dia, porque ser todo dia é foda”.


.: CRÔNICAS DA MINHA VIDA (181) :.

1720.
P: Você ainda cometerá muitas falhas, eu sinceramente espero que nenhuma seja tão mortal que eu não possa perdoá-lo, falharei também, espero que possa me perdoar. Você ainda vai amar muitas mulheres e eu espero que sejam mulheres mesmo, viu? E enquanto eu estiver por aqui, vou te aconselhar e você NÃO vai ouvir. Você ainda vencerá a sua batalha mais difícil no momento, e mesmo assim verá que não é a batalha mais difícil que você enfrentará na vida, o seu desafio nem começou! Você ainda tentará consertar o mundo por causa desse seu maldito egoísmo de querer ser Carpinteiro do Universo, oh, mania desgramada! Muita coisa na sua vida vai acontecer, espero que eu esteja por perto de alguma forma, porém se não tiver, lembre-se da caixinha de Chicletes ADAMS. Para finalizar, um tradicionalBoa sorte”, bons ventos diretamente vindos da Irlanda.
F: Obrigado... Meu irmão.

1719.
CW: Acabaram de me chamar de “Colíria” da Capricho. Acho que foi um elogio.
F: Menininhas de dez, onze anos matariam para serem chamadas assim. É um elogio sim.

1718.
CW: Felipe, olhei pro chão agora e tinha um gongolo enorme em cima do meu... Tô em choque ainda.
F: Eu posso até imaginar esse momento: o movimento da cabeça, a respiração parando, o frio correndo pela espinha, aquela vontade de gritar e ninguém para ajudar. Poético (risos).
CW: Caralho, será que ele andou em cima do meu pé? Tava no meu chinelo, bem pertinho, meu pé, socorro, meu pé.
F: Vai ter que amputar (risos).
CW: Porra, Felipe, nunca mais uso aquele chinelo. NUNCA!
F: O que, vai tocar fogo no chinelo?
CW: Cara, vou jogar fora. Minha mãe vai me quebrar, mas eu não vou usar.
F: Medo que o gongolo tenha impregnado-o com um cheiro específico para te marcar e assim o exército de gongolos te atacar durante o sono? “É ela quem atirou a sandália no nosso irmão. Gongolos, ao meu comando! Peguem-na!”. OK, viajei muito agora.

1717.
My: No meio da prova [de Redação], né, você tinha que escolher três temas e fazer um texto dissertativo argumentativo, aí me grita um garoto: “GENTE, O QUE É DISSERTATIVO?”. Minha vontade foi [a] de enfiar a lapiseira na jugular dele.
F: No pulmão. Ele morreria afogado com o próprio sangue.
My: OK, isso me assustou. Sério.
F: Desculpe, desculpe. Humor negro demais. Sorry.

1716.
Ma: It’s gonna be legen — wait for it.
F: (esperando).
Ma: Olha o seu Orkut, bro.
F: (olha o Orkut) OK, isso definitivamente vai para o blog (convulsões de risos).

1715.
Ai: Eu queria ter te ligado [outro dia].
F: Você deveria ter ligado. Eu, provavelmente, estaria dentro de outra moça, mas ainda assim você deveria ter ligado se tinha vontade de falar comigo.

1714.
F: (atendendo o celular).
BHG: (puta da vida) Cara, por que esse povo NUNCA te deixa em paz, hein?
F: Porque eu escuto.

1713.
J(p): Onde é que você tava [nessa última hora]?
F: (com um sorriso sacana de orelha a orelha) Houve um descarrilamento de trem. Minha ajuda foi necessária.

1712.
PV: Tenho que ter cuidado. Grandes poderes exigem grandes responsabilidades.
F: (imediatamente) Não mate o seu tio!

1711.
PV: Meu dia foi interessante.
F: Conte aí.
PV: Bom, basicamente duas garotas me cantaram hoje... Eu fui atraído pro shopping pela [censurado] e lá conheci o novo namorado da [censurado]², reencontrei a [censurado]² pra variar e a [censurado]³, aí fomos pro [Shopping Doca] Boulevard, a [censurado] pagou o meu ingresso porque eu tava sem grana e fomos ver Avatar (bicho azul) em 3-D, depois era meia-noite, eu tava no meio da Doca e não tinha mais ônibus, aí uma mulher para o carro, puta da vida com o namorado/ficante, aí falei pra ela não perder tempo com ele, aí ela me oferece uma carona, eu fui com ela, conversei com ela, ela se acalmou, aí acabamos indo pra casa dela, fizemos safadezas e agora estou aqui em casa. E, foi um dia interessante.
F: (emocionado) And know you are one of us… [censurado] F. Seiei, be without fear in the face of your enemies. Be brave and upright, that the Force may love thee. Speak the truth always, even if it leads you to your death. Safeguard the helpless and do no wrong, that’s your oath. (simula uma bofetada) And so that you remember it. Rise a Jedi Knight.

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