quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Crônicas da Minha Vida (178) + Citação + Devaneio


.: DEVANEIO :.



— Você não parece estar muito bem, rapaz. Quer um pouco?
— Não, obrigado. Eu não bebo.
— Mais para mim, então. Por que está com essa cara de funeral, hein?
— Ah, é que aconteceram algumas coisas...
— “Ah, é que aconteceram algumas coisas”, hah, hah. Diabos! Eu sei como isso é. Diga aí qual é o nome dela, rapaz. Oh, não me olhe assim. O que mais pode deixar um homem desse jeito senão uma mulher?
— Thaíssa.
— Oh, ela é de Fortaleza?
— Não, não. Ela é daqui mesmo. Por que pensou que ela era de Fortaleza?
— Por nada, não. Apenas... Devaneios de um velho. Nada que alguém da sua idade poderia entender. Não agora, pelo menos.
— Sei.
— Então, onde é que está essa Thaíssa agora?
— Se o meu relógio estiver certo (e eu creio que está) ela deve estar entrando na igreja agora. Hoje é o dia do seu casamento, entende.
— Jesus, Maria, José! Isso deve ser pior do que um chute certeiro nos colhões com um sapato de ponta de aço!
— Algo parecido com isso...
— Por que não é você que está lá esperando por ela no altar?
— Eu não sei. Tudo ia de acordo com os conformes até que, até que... Eu não sei. Ela simplesmente escorregou por entre os meus dedos. Eu a perdi e nem sei por que.
— Tudo bem, rapaz. Isso acontece. Você conhecerá outras mulheres e também as perderá. É a vida. Nada é eterno. Tudo é passageiro. Inclusive a própria vida. Por isso... Trate de se divertir ao máximo, aproveitar cada singelo instante de prazer que surgir diante de você, agarrar toda e qualquer oportunidade, arranjar uma boa mulher para ter seus filhos e fazer companhia a você e então morrer com um sorriso no rosto porque a sua vida foi boa e você fez tudo que queria.
— E se essa boa mulher já estiver casada com outro?
— Então certamente essa boa mulher não era para você, mas para o outro. Você pode me chamar senil se quiser, mas eu acredito cegamente que nisso as novelas, os filmes, os livros e tudo mais acertaram: no final, todo mundo encontra a sua outra metade da laranja, todo mundo se ajeita.
— Isso aconteceu com o senhor?
— Aconteceu.
— Onde encontrou sua boa mulher?
— No último lugar em que eu poderia imaginar: na minha frente.
— Ao seu lado?
— Ao meu lado.
— É uma coisa engraçada, rapaz. Nós vivemos procurando por coisas que, para o nosso espanto, sempre estiveram na nossa sempre.
— Não é a toa que dizem que a vida é uma comédia.
— A mais divertida de todas, rapaz. A mais divertida de todas.


.: CITAÇÃO :.

“Incompleta. De todas as palavras que podem ser usadas para descrever A Sagrada Família (marrom, pontuda, estranha, etc, etc), a melhor parece ser “incompleta”. Por quê? Porque no dia 7 de junho de 1926, o arquiteto Antoni Gaudi cuja barba inclusive era marrom, pontuda e estranha e incompleta foi atropelado por um ônibus, e assim sua grande obra de arte permaneceria para sempre... Incompleta. Gaudi tem crédito por nunca ter desistido do seu sonho, mas geralmente não é o que acontece. Normalmente não é um ônibus que a igreja marrom, pontuda e estranha de ser construída, na maior parte do tempo é difícil demais, ou caro demais, ou muito assustadora. E só quando você para é que percebe como é complicado recomeçar, então você se força a não querer, mas sempre está lá, e até que a termine, sempre será... Incompleta”.


.: CRÔNICAS DA MINHA VIDA (178) :.

1690.
J(p): Minha casa [de Salinas] é pertinho da casa da [censurado], como é que eu nunca encontrei ela por lá durante todos esses anos?
F: Simples, ora. Você apenas não estava olhando.

1689.
CW: Puxa, eu tô muito triste porque não vou poder ver o Paul [McCartney] nunca, né.
F: Ele não fará um segundo show em São Paulo em um futuro não tão distante?
CW: Vai sim. Eu tava dando uma olhada nos ingressos hoje, caracoles, eu não tenho esse dinheiro e eu duvido que a minha mãe deixa eu ir pra São Paulo e ainda banca tudo.
F: Bem, eu te disse meses atrás para ir juntando de tantinho em tantinho. Qual é o ingresso mais barato?
CW: Cento e alguma coisa.
F: Estudante paga meia?
CW: Acho que não.
F: Pronto! Alerte o PROCON, processe a empresa responsável por trazê-lo para cá e garanta cinco ingressos, dê um para uma amiga, guarde outro para mim e venda os dois restantes para pagar a minha passagem para aí.
CW: (risos).

1688.
Am: Por que homem gosta de peito siliconado? É tão falso...
F: O mesmo vale para o Papai Noel, mas, ei, isso não me impede de adorar abrir os presentes.

1687.
Co: (no telefone) Seu filho de uma maldita rameira!
F: Ah, olá, tudo bem, moça?
Co: Não me venha com esse seu “ah, olá, tudo bem, moça?”! É verdade o que a [censurado] me disse?
F: Depende. Se ela te disse que eu trapaceei quando estávamos jogando Uno outro dia, então é uma mentira lavada, eu ganhei honestamente.
Co: Ela me falou que você fez coisas safadas com a irmãzinha safada do [censurado]... DE NOVO.
F: Ah, tá. Bem, ela não estava mentindo, não.
Co: Como você pôde fazer isso, seu imbecil?! Aff, eu odeio essa menina, você sabe disso, e ela é doida de pedra... Como você pode fazer isso, hein?
F: Você já ficou com alguém que tem um parafuso a menos? É simplesmente sensacional!
Co: Credo, você é assim tão superficial?
F: Você ainda tem coragem de me perguntar isso após longos onze anos de convivência (risos)?

1686.
F: (no telefone) Como eu não tô conseguindo falar nem com o [grande mano esbranquiçado] nem com o [pequeno mano messiânico] e, bem, porque falar com o [gigantesco mano satânico] não é nem mesmo uma opção, sobrou pra você. Pode me dar um conselho?
Ba: Claro. Amigas servem para isso.
F: Irmãzinha safada de dezessete anos do [censurado] acabou de me ligar para ir a casa dela apesar de o [censurado] ter nos feito PROMETER que não ficaríamos juntos de novo. O que eu faço?
Ba: Dê-me a nota da menina.
F: Ela é um sólido 9,2.
Ba: Dê-me a nota do [censurado].
F: Ele é um homem, não entra na escala.
Ba: E você ainda tá me perguntando o que fazer? Faça coisas com ela que ela teria vergonha de contar até para a melhor amiga, porra!
F: (sorridente) E é por essas e outras que você é uma das minhas melhores amigas, fofa.

1685.
J(p): E aí, manolo, melhorou [da dor de cabeça]?
F: Sim, sim. Nada como algumas horas dormindo e o teu primo me acordando para jogar God of War II.
J(p): Pô, o [censurado] nem me visita, mas não posso reclamar, eu também não visito ele.
F: É, mas vou dizer agora que você ficou de mimimi porque ele não vai te visitar.
J(p): Diz.
F: Acabei de dizer. Ele deu uma resposta comovente: “Aham. Felipe, mata logo esse bicho pra mim”.
J(p): Porra. Bom primo.
F: E não é (risos).

1864.
J(p): Fazia muito tempo que eu não aparecia tanto nas Crônicas. Mas eu entendo: novinhas cariocas > resto.
F: Na verdade, você não aparecia há tempos porque há tempos não paramos para conversar direito.

1683.
J(p): O que eu acho engraçado na [censurado] é a “animação” dela. A gente passa a madrugada inteira escrevendo um discurso, selecionando cada singela palavra, daí vai discursar para ela e ela responde com um “Tá, tá bom”. É de dar pena.
Nh: Ei, eu não faço isso... Muito.
F: Claro que faz! É o que você mais faz! A gente vem falar contigo cheio de empolgação, conta as coisas com todos os detalhes, muda a voz quando necessário, faz gestos com as mãos e isso e aquilo e acolá, e você fica só no “Tá, tá bom”.
Nh: (suspiro) Tá, tá bom.
F & J(p): Viu!
Nh: (risos).

1682.
Nh: Por que vocês [você e o seu primo] gostam tanto de fofocas, hein?
F: Não é gostar de fofocas. E gostar de coisas engraçadas. Na nossa família, não há nada tão importante quanto uma boa risada, então quando escutamos algo engraçado, nós TEMOS de compartilhar.

1681.
F: (contando uma história)... Então, apesar do monte de espinhas na cara, esse carinha tinha papo, por isso ele ficava com as meninas mais incrivelmente lindas, era aquele tipo de coisa que te faz soltar um “Como esse protótipo de Shrek está com essa princesa? Isso não faz sentido! Isso é MUITO errado”.
Nh: Ele tinha papo? Papo que nem o [nosso professor que já foi casado sete vezes]?
F: Sim, sim.
Nh: Eu não gosto de pessoas que têm papo.
F: Por que não, ora?
Nh: Porque não. Acho feio. Tem uma menina aqui [na sala] que tem papo. Ela me dá raiva.
F: (estranhando) OK, por quê?
Nh: Porque é revoltante! É uma menina magérrima que tem papo!
F: Pois é, né, eu não estava me referindo a papo (pelanca), mas a papo (lábia) (risos).
Nh: Ah... Ah, tá.
F: Manja muito, hein!

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