quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Crônicas da Minha Vida (170) + Poema + Devaneio



.: DEVANEIO :.



Há muito tempo, uns cinco, ou seis, anos havia um desenho chamado Deus, o Diabo e Bob, o qual passava de madrugada. Ao contrário de Dilbert, eu não tinha o hábito de assisti-lo, devo ter visto, no máximo, três episódios, não me recordo muito de seu conteúdo, no entanto há uma frase dita por Deus da qual nunca me esquecerei (ou assim espero): “Você é o meu cara especial. Ele é o meu cara especial. Todo mundo é especial, Bob”.

E é essa frase que veio instantaneamente em minha cabeça quando, dando uma olhadela no Orkut de uma pessoinha, encontrei uma comunidade: Deve ser chato ser normal (descrição: “Nem quero saber como é”). Essa comunidade, assim como muitas outras coisas, me fez pensar em como todo mundo acredita ser especial, diferente e, em suma, único. Isso é algo engraçado, porque implica um paradoxo: se todo mundo é diferente e, portanto, anormal, então o anormal tornar-se normal e, por sua vez, o normal tornar-se anormal.

Em consequência, lembro-me da minha adolescência e daquelas pessoinhas que de tudo faziam para serem notadas — de tão desejosas de não serem apenas “outro tijolo na parede”, algumas dessas pessoinhas construíram personalidades honestamente desprezíveis, negando por completo tanto a moral quanto o bom-senso, tropeçando terrivelmente ao tentar apressar seu crescimento, perdendo experiências de suma importância para a vida adulta. Unicamente pela vontade de ter sua existência reconhecida pelo mundo, aquele rapaz que eu conhecia aceitou fumar maconha, depois saltou para o ectasy, então para a cocaína e, como dito por ele mesmo da última vez em que nos vimos há um ano, agora está aplicando heroína em seu organismo. Até onde eu sei, ele ainda está vivo, ou algo parecido com isso.

Mas isso não é um texto sobre drogas. Isso é um texto sobre notoriedade. Aquela velha história de “a única coisa pior do que falarem mal de você é não falarem de você”. Eu entendo esse sentimento, e até mesmo me vejo, ocasionalmente, como sendo vítima deste. É importante acreditar que você é especial, diferente e único, porque isso o ajuda a tomar as rédeas de sua vida, ser o protagonista da sua vida e, ainda que por um brevíssimo momento, desconsiderar que H.P. Lovecraft (e sua literatura) estava certo: nós somos apenas o produto de um acidente cósmico. E nada além.


.: POEMA :.

Correndo,
Correndo,
Correndo o mais rápido possível,
Tentando ser o seu homem completo,

Você quer que eu te queira,
Mas não todo dia,

Você quer que eu implore,
Quando não há nada a dizer,

Você quer que eu me irrite,
Mas sempre é difícil,

Eu preciso ser fiel,
Mesmo quando você age que nem uma vadia,

Você quer intensidade com doçura,
E delicicadeza e maldade,

Você quer me fazer ser o mestre desse meio-termo!

Correndo,
Correndo,
Correndo o mais rápido que posso,
Tentando ser o seu homem completo,

Você sabe que eu tentarei,
Eu posso ser o seu homem completo.



.: CRÔNICAS DA MINHA VIDA (170) :.

1610.
CW: Eu acho graça de arrogância.
F: Você deve achar muita graça de mim, então.
CW: (sem uma gota de sarcasmo) Ah, você nem é arrogante...
F: (olhinhos brilhando) OK, eu fiquei comovido agora... Primeira pessoa que não me tem como arrogante. Sairemos para jantar qualquer dia desses para comemorar!

1609.
F: Feliz/inspirada com as vitórias da Lady Gaga [no VMA]?
CW: Cara, 1) Fiquei triste pela Katy [Perry] não ter vencido nenhuma categoriazinha, 2) Lady Gaga estava vestida de Alexander McQueen, meu queixo caiu, 3) Lady Gaga estava diva em três figurinos, 4) Lady Gaga estava maravilhosa com aquele cabelo, 5) Lady Gaga mereceu todos os prêmios por Bad Romance, 6) Só faltou a Britney [Spears]. PS: Lady Gaga anunciando nome novo do CD, puta jogada de marketing.
F: OK, eu vou tomar isso como um “Sim, fiquei feliz/inspirada com as vitórias da Lady Gaga”.

1608.
F: Então, já está tendo uma impressão melhor de mim?
Lu: Estou sim, você é uma pessoa legal apesar de ser safado e metidinho.
F: Você tocou o meu coração, eu estou emocionado.
Lu: (risos). Isso foi irônico, mano?
F: Intensamente.
Lu: Puxa vida... Eu te elogiei. Você já está acostumado [demais] a ser chamado de safado.
F: Mais do que é saudável, para falar a verdade. Até pretendo escrever um texto sobre isso.

1607.
*no primeiro dia*
F: Eu aposto dez centavos como você não vem hoje à tarde.
G: Dez centavos? Não. Aposto cinquenta!
F: Cinquenta centavos serão então! (bate na mesa com a palma da mão) “Dadinho é o caralho, meu nome é Zé Pequeno, porra!”.
*no segundo dia*
G: Aqui, toma o teu pagamento (despeja cinquenta centavos em moedas de cinco centavos).
F: Filho duma macaca assanhada! O que, assaltou o ceguinho da esquina é?
G: (rindo) Eu queria me livrar dessas moedas.
*horas mais tarde*
F: OK, nova aposta: cinquenta centavos como você não vem pro retorno mais tarde!
G: Apostado!
F: Beleza. (sorriso diabólico) [censurado], sabe que vindo, ou não vindo, você vai perder, né? Se vier, paga-me os benditos cinquenta centavos, se não vier, ah... (risos) Pega o dinheiro do ceguinho de volta!
G: Filho da puta!

1606.
Fa(i): Ele [o cachorro] te ownou.
F: Ah, grande coisa! Quem nunca me ownou?
Fa(i): É verdade.
F: Pior defesa de todos os tempos?
Fa(i): Com certeza.
F: (derrotado) Foi o que pensei.

1605.
Co: Eu trocaria um rim para me esquecer disso.
F: “Como é estranha à natureza do conhecimento! Ele apega-se à mente, uma vez adquirido, e ali fica como líquen na rocha”.
Co: Sábias palavras, as do Moderno Prometeu.

1604.
F: Todas as mulheres são safadas, algumas só não sabem disso.
J(p): (iludido) Não, nem todas. A minha mãe e a tua mãe não são safadas. As outras são.
F: (iludido) E a minha irmãzinha também não é. Tirando essas três, todo o restante curte uma safadeza.

1603.
J(p): Meu único arrependimento, por mais incrível que pareça, foi não ter avisado um cara, dava para ver que ele era um pai de família do tipo que passou o dia inteiro na rua, que um papel havia caído do bolso dele, eu vi o papel caindo, mas fiquei calado, ele só percebeu que estava sem papel quando desceu do ônibus e, né, não conseguiu recuperá-lo.
*horas mais tarde*
J(p): (na loja de conveniência) Amigo, acho que essa revista é do cara que acabou de sair.
Vendedor: (pega a revista e vai atrás do cara que tinha acabado de sair da loja).
F: Onde quer que ele esteja; o cara do ônibus está sorrindo, meu primo.
J(p): Tomara que sim.

1602.
J(p): Cara, eu tô pasmo, a [censurado] sabe quem é o Vegeta.
F: Normal. Ela cresceu na mesma época que a gente. Qualquer menina daqui sabe quem é o Vegeta. Menos a [censurado]²: ela não tinha nascido ainda.
J(p): Nem as gêmeas [altamente religiosas]. Elas estavam ocupadas rezando.

1601.
PV: Mas me responda uma coisa. Sinceramente.
F: Duas [coisas], até.
PV: Já sentiu por alguma garota o que você sentia pela [Srta. Insegurança]? Com a mesma intensidade? Duas perguntas.
F: Não. Não com a mesma intensidade.
PV: É impressão minha, ou vai sempre diminuindo a intensidade com o passar do tempo?
F: É, é mais ou menos assim, digo a única menina que conseguiu quebrar isso e está me fazendo manter o interesse por mais de três meses é a [censurado].
PV: Eu tô querendo conhecer a [censurado]² porque, de uma certa forma, eu quero voltar a sentir isso de novo como quando eu me apaixonei da primeira vez, talvez ela não me deixe assim, mas não me custa nada tentar.
F: Cara, eu acho que, no fundo, todos nós queremos nos sentir assim de novo, não é?


0 comentários:

Postar um comentário