terça-feira, 24 de agosto de 2010

Crônicas da Minha Vida (162) + O Dia do 'Fail' + Devaneio



.: DEVANEIO :.


Eu sou míope e diabético, portanto, sim, eu passo muito tempo dentro de consultórios médicos, outro dia, por exemplo, fui a uma clínica ocular para fazer uma retinografia, eu sei que, apesar de estar lá no nome; algumas pessoas NÃO fazem a menor ideia do que diabo é uma retinografia, por isso, vou explicar: é uma foto (“grafia”) da retina ocular (“retino”). Fácil, não é? É, é, muito fácil.

Então, eu fui lá à clínica ocular tirar a bendita foto da bendita retina, tudo bem, é um processo indolor e rápido, não demora nem dez minutos, o que demora é ser atendido pelo médico, ah, mas isso demora bastante! Para você ter uma ideia, caro leitor desocupado, por um momento eu pensei ter entrado no prédio errado, pensei estar em alguma sede do SUS, ou algo do tipo, porque, caramba, o lugar estava abarrotado de gente! Parecia um formigueiro! OK, um formigueiro de formigas da terceira idade e seus acompanhantes, contudo ainda assim um formigueiro. Minha reação imediata? Girar nos calcanhares e sair dali, infelizmente, eu fui pego pelo colarinho da camisa pela minha mamãe, que me arrastou para dentro do consultório e me atirou de peito no balcão da recepção.

É como dizem, né, “Se está no inferno, abraça o capeta”, entreguei a minha carteirinha da UNIMED e o papel do exame para o recepcionista, ele grampeou os documentos e os colocou no fundo de uma pilha de papeis que parecia o próprio Empire State Building em relação ao tamanho. Primeiro senti uma ligeira vertigem (no sentido médico, não no figuro), depois bebi uns copinhos d’água e comecei a reclamar, a soltar comentários irônicos e sarcásticos e, puxa, deu resultado! Minhas reclamações fizeram-me subir alguns níveis na pilha, agora só tinham 978 pessoas na minha frente.

Botei o meu dedinho no leitor biométrico, guardei minha carteirinha e fui me sentar. Legal, as coisas estavam melhorando, afinal, agora eu estava sentado. Certo? Errado! Em toda minha sorte, eu acabei me sentando ao lado de três personagens típicos de consultório médico: o velhinho que está esperando uma oportunidade para contar toda a história de sua vida, a velhinha que tem medo de tudo relacionado à Medicina e acha que o filho é o Rei da Cocada Preta e aquela tiazona experiente de seus quarenta e poucos anos, ela já viu de tudo e conhece de tudo, pergunte o que quiser para ela e ela há de te responder, se não quiser perguntar, tudo bem, ela te responderá mesmo assim, quer dizer, não é como se você tivesse uma escolha ou algo do tipo.

Para minha felicidade, o velhinho ficou conversando com outro velhinho e a velhinha encontrou companhia na tiazona experiente, assim fiquei sozinho, calado, quietinho no meu canto e amaldiçoando a dona-senhora que aplicou aquele colírio ardente no meu olho — uma injustiça da minha parte, ela apenas está cumprindo o trabalho dela, não deveria tê-la xingado (ainda que em pensamento) de “vaca”, “rameira”, “macaca assanhada”, etc, etc, quer dizer, eu pretendo ser um ortopedista no futuro, quebrarei ossos para ganhar o meu dinheirinho, não tenho o direito de reclamar, não.

Como minha posição tornava impossível para eu assistir a TV Globinho, eu tive de procurar outra forma de me distrair e então comecei a pensar, uma coisa terrível, devo dizer, até cito o Rei Arthur em O Cavaleiro Imperfeito, “Não deixe ninguém te ensinar a pensar, Lance[lot]: é a maldição do mundo”. E, caramba, eu sou amaldiçoado. Penso muito. O tempo todo. Papai diz que eu seria rico caso pudesse ganhar dinheiro pensando em besteiras.


Pois bem, eu pensei. Eu pensei em como um paciente (substantivo) tem de ser muito paciente (adjetivo), especialmente quando se está em uma clínica onde você é a única pessoa cuja idade é inferior a mil anos, veja bem, talvez para se vingar das reclamações, o Satanás do recepcionista me colocou como último a ser atendido. É, o último. Sabe aquelas vinte e duas pessoas em que eu pensei ter passado a perna? Pois é, não passei a perna, não. Pelo contrário, alguém passou a perna em mim, precisamente uma velhinha de postura tão encurvada que era simplesmente incrível que seu nariz não arrastasse no chão. Por favor, não me entenda mal, eu não tenho qualquer preconceito com a terceira idade, meu avô tinha mais de sessenta anos quando eu o conheci e, puxa, só Deus sabe como eu adorava aquele homem.

Enfim, eu fiquei por último, e isso apenas intensificou a irritação: era meio-dia, eu estava com fome, meus olhos ardiam, as costas doíam e quando eu finalmente consegui ficar em uma posição que me possibilitava assistir televisão, o “maledeto” do recepcionista inventou de mudar o canal para a Boa Vontade TV. Deu-me uma vontade quase incontrolável de soltar um palavrão e xingar a criatura, quer dizer, quem assiste à Boa Vontade TV de boa vontade, hein? Felizmente, o médico abriu a portinha, chamou pelo meu nome, fiquei de pé, tropecei na bengala de uma velhinha que estava a esperar por seu filho, entrei na sala do exame, deixei que tirassem uma fotografia da minha adorável retina, marquei o retorno e fui para casa.

Moral da história, você me pergunta? Médicos vão para o Céu, enfermeiras nem sempre são bonitas e recepcionistas são mais filhos da puta que aqueles vendedores de telemarketing.


.: O Dia do 'Fail' :.
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.: CRÔNICAS DA MINHA VIDA (162) :.


1530.
F: Você está com aquele olhar.
Ca: Que olhar?
F: Aquele olhar que diz “Eu me ferrei”.
Ca: Sinto te dizer que você tá errado.
F: Eu te conheço há quase dez anos, vamos, desembucha.
Ca: (olhar irrequieto) Tá, tá. Eu te conto.
F: E eu, como teu amigo, aviso logo: vai para o blog.
Ca: (suspiro) Ela me pegou.
F: Ela quem? Te pegou, como assim?
Ca: Ela, [minha namorada], me pegou.
F: Melhor dar detalhes acerca do “me pegou”.
Ca: Ela me pegou fazendo aquilo.
F: Definitivamente, esse teu “aquilo” não é o “aquilo” da [censurado]. Então, o que é esse teu “aquilo”?
Ca: (todo errado) Aquilo. Você sabe.
F: Aquilo o quê...? (epifânia) Aquilo! Aquilo?
Ca: Aquilo.
F: (convulsões de risos).

1529.
Ba: Seu amigo está me irritando.
F: Meu amigo, teu namorado?
Ba: É, é. Ele não larga do meu pé. Eu nem posso mais fazer as unhas sozinha! Se você quer estar lá no dia do nosso casamento, dá um jeito de distraí-lo.
F: Bem, eu acho que posso ir a casa dele nesse fim de semana e espancá-lo no videogame.
Ba: Não, porque aí ele ficará triste e me alugará no telefone por horas.
F: Situação difícil.
Ba: Muito!

1528.
Tm: Minha Internet é que nem namorada: você gasta um dinheiro com ela, mas ela só dá quando quer... Pronto. Já foi minha cota de piadinha sem graça machista hoje.
F: (rindo) Ei, a piadinha foi engraçada, eu ri.

1527.
*flashback*
F: Me diz uma coisa, eu já te disse que te acho MUITO linda?
B: (constrangida) Eu tenho namorado.
F: Que triste. Mas isso não te deixa menos linda, apenas inacessível. Por enquanto.
B: (risos).

1526.
F: Eu fiz uma descoberta sensacional: acontece que o teu nome não é uma permutação acidental do “A” e do “O” em Caroline, mas uma variação de Cornélia, “dama romana”.
Co: Certo. Posso te citar?
F: Claro.
Co: Eu não ligo.

1525.
Co: Eu estou com ódio do [censurado].
F: Você tem todo direito de estar com ódio do [censurado].
Co: Eu estou com ódio de você também.
F: Você não tem direito de estar com ódio de mim também.

1524.
Pa: (subnick) Égua, aquele trocinho tá me arranhando.
F: Que trocinho, noiva?
Pa: O aramezinho do aparelho.
F: Ah, colocou aparelho é?
Pa: Não lembra, não?
F: Não.
Pa: Choquei! No seu niver, eu já tava de aparelho.
F: Ah, é que quando eu olho para você, me perco na beleza dos teus olhos, por isso ainda não tinha notado.
Pa: Que lindo! Tá perdoado.
F: Pensamento rápido: salvando-me de enrascadas desde 1990.

1523.
CW: (no Twitter) Seriously, Alejandro, stop calling [Lady] Gaga. I think she’s made pretty clear. She’s not interested in and, frankly, you can do better.
F: (rindo e pensando) I lol’d at this!

1522.
He: Sua vida mais parece um filme pornô regado a cinismo e a partes autênticas de sarcasmo.
F: Quem me dera, cara! Certa vez escrevi um conto falando da minha vida sexual e tentei vendê-lo para uma editora, de tão inocente que era, pegaram-no e transformaram-no em um joguinho de quebra-cabeça para crianças de menos de sete anos!

1521.
Co: Eu já mencionei alguma vez que a tua vida é: niilismo, cinismo, narcisismo, sarcasmo e orgasmo?
F: Esse não era o slogan do [Nicolas] Sarkozy?


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